Reportagem modificada de: Adriana Stock BBC Brasil
Crianças que têm acesso a eletrônicos, como celulares e tablets, na hora de dormir, estão sujeitas a desenvolver uma série de problemas de comportamento e de saúde.
Uma pesquisa do King's College, de Londres, reuniu dados de 125.198 crianças e adolescentes entre 6 e 19 anos de idade, em diversos países, e detectou efeitos negativos do uso do aparelho no período de descanso em diferentes graus de gravidade. Os pesquisadores verificaram de má qualidade do sono a doenças como obesidade e depressão infantil.
E não são só pesquisadores e pais que têm se preocupado com o assunto. Neste fim de semana, dois grandes grupos de investidores com US$ 2 bilhões em ações da Apple pediram, em carta aberta, que a empresa desenvolva softwares que limitem o uso de smartphones por crianças. Os acionistas citam justamente estudos mostrando o impacto negativo do celular e das redes sociais em excesso na saúde física e mental dos jovens a para justificar o apelo. A Apple ainda não respondeu a eles.
O uso de eletrônicos atrapalha o sono, em primeiro lugar, porque o simples fato de ligar o celular ou tablet para brincar com um jogo faz com que a criança, por exemplo, atrase sua hora de ir para cama e durma menos.
Em segundo lugar, diz o estudo da King´s College, o conteúdo pode ser muito estimulante - e gerar uma excitação que atrase o início do relaxamento.
Em terceiro lugar, a forte luz emitida pelas telas dos dispositivos gera um impacto no corpo, afetando o relógio biológico e a percepção do cérebro do que é noite ou dia.
A chamada "luz azul" já foi alvo de diversos estudos nos últimos anos. O mais recente, da Universidade de Haifa, em Israel, constatou que a luz azul, presente nas telas de celulares, tablets e computadores, inibe a secreção da melatonina, o hormônio que avisa o nosso corpo que está na hora de dormir.
O organismo também não ativa seu mecanismo natural que reduz a temperatura corporal. O normal é que a temperatura do corpo caia durante a madrugada e volte a subir quando estamos prestes a despertar. Isso, contudo, não ocorre se o cérebro recebe a mensagem que ainda estamos em estado de vigília.
"O estímulo biológico para o sono fica prejudicado pela luminosidade. Porém o problema não é só a luz, mas também pensar em um monte de coisas, condicionando o momento do sono com a execução de tarefas sociais. Talvez isso atrapalhe mais do que a luz", observa o neurologista Goulart.
De acordo com a neurologista, no curto prazo, os "prejuízos, às vezes, não são perceptíveis". Mas a falta de sono "pode interferir no rendimento cognitivo porque o processamento de memória, que ocorre na segunda metade da noite, provavelmente não aconteceu ou não aconteceu de maneira satisfatória".
"Em curto prazo, pode afetar a consolidação de informações recém-aprendidas porque vai ter um sono mais superficial, mais fragmentado e não reparador", afirma Leonardo Ierardi Goulart, médico especialista em doença do sono do Hospital Albert Einstein, em São Paulo
No longo prazo, ela explica, há uma "bagunça de hormônios" que controlam, por exemplo, a saciedade. Se não produz esse hormônio, a leptina, cuja liberação ocorre ao longo da noite e no início da manhã, o indivíduo vai comer mais, podendo ficar obeso e diabético.
FONTE(S): BBC BRASIL Ciência (http://www.bbc.com/portuguese/geral-42603165); Imagens --> Internet (www.google.com.br/imghp?hl=en).