Da BBC
Os pulmões têm uma capacidade quase "mágica" de reparar alguns danos causados pelo cigarro — mas apenas se você parar de fumar, diz um novo trabalho publicado na revista científica Nature.
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Em cada tragada, o fumante inala mais de 4.720 substâncias tóxicas, como: monóxido de carbono, amônia, cetonas, formaldeído, acetaldeído, acroleína, naftalina e fósforo P4/P6 (usado para matar rato), além de 43 substâncias cancerígenas, sendo as principais: arsênio, níquel, benzopireno, cádmio, chumbo, resíduos de agrotóxicos e substâncias radioativas (Polônio 210, por exemplo). Como resultado, fumar é causa direta de cerca de 50 doenças, muitas delas incapacitantes e fatais, como câncer, doenças cardiovasculares e respiratórias crônicas.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, isso representa a principal causa de mortes evitável em todo o mundo, sendo responsável por 63% dos óbitos relacionados às doenças crônicas não transmissíveis.
Pessoas que fumam pelo menos um cigarro por dia têm 64% mais riscos de morte prematura que os não fumantes, já entre os que consomem de um a 10 cigarros por dia, o risco é até 87% maior. E fumar 20 ou mais cigarros por dia quase triplica as chances de sofrer hemorragia cerebral.
As mutações que levam ao câncer de pulmão eram consideradas permanentes e persistentes, mesmo após o indivíduo abandonar o cigarro. Mas uma descoberta surpreendente, publicada na revista científica Nature, revela que as poucas células que não foram danificadas pelo tabagismo podem regenerar o órgão.
O efeito foi observado mesmo em pacientes que fumaram um maço de cigarros por dia durante 40 anos antes de parar de fumar.
As substâncias químicas presentes no cigarro danificam e provocam mutações no DNA das células pulmonares — transformando lentamente as células saudáveis em células cancerígenas.
O estudo — que analisou amostras dos pulmões de 16 pessoas, incluindo fumantes, ex-fumantes, indivíduos que nunca fumaram e crianças — mostrou que isso acontece em grande escala nos pulmões de um fumante, antes mesmo de a pessoa desenvolver um tumor.
A grande maioria das células coletadas das vias respiratórias dos participantes fumantes havia sofrido mutações em decorrência do tabagismo — algumas células tinham até 10 mil alterações genéticas. Mas uma pequena porção de células estava incólume* .(*sem lesão ou ferimento; livre de dano ou perigo).
Não se sabe exatamente como elas conseguiram evitar a devastação genética causada pelo fumo, mas, de acordo com os pesquisadores, estas células parecem "viver em um bunker nuclear". No entanto, depois que alguém para de fumar, são essas células que crescem nos pulmões, substituindo aquelas que foram danificadas.
Até 40% das células de indivíduos que tinham abandonado o cigarro se assemelhavam às das pessoas que nunca tinham fumado.
"O estudo se concentrou nas vias respiratórias principais — e não nos alvéolos, pequenas estruturas responsáveis pelo fluxo de ar nos pulmões. E os pesquisadores ainda precisam avaliar o quanto os pulmões são de fato recuperados."
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de pulmão está associado ao consumo de derivados de tabaco em cerca de 85% dos casos diagnosticados. Estudos já mostraram anteriormente que as pessoas podem reduzir o risco de desenvolver a doença praticamente desde o primeiro momento após parar de fumar.
"É uma grande motivação a ideia de que as pessoas que param de fumar podem colher os benefícios duas vezes — prevenindo mais danos às células pulmonares relacionados ao tabaco e dando aos pulmões a chance de compensar alguns dos danos existentes a partir das células saudáveis", diz Rachel Orritt, da organização britânica Cancer Research UK.
Segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, o tabaco é responsável por cerca de seis milhões de mortes em todo o mundo. No Brasil, estima-se que o tabagismo seja responsável por 200 mil óbitos ao ano. O tabagismo é, reconhecidamente, uma doença crônica — resultante da dependência à droga nicotina — e um fator de risco para cerca de 50 doenças, dentre elas, câncer, doença pulmonar obstrutiva crônica e doenças cardiovasculares. Além de estar associado às doenças crônicas não transmissíveis, o tabagismo também é um fator de risco importante para o desenvolvimento de outras doenças, tais como tuberculose, infecções respiratórias, úlcera gastrintestinal, impotência sexual, infertilidade em mulheres e homens, osteoporose, catarata, entre outras doenças.
FONTE(S): BBC Ciência (https://www.bbc.com/portuguese/geral-51309542); Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (http://www.iff.fiocruz.br/index.php/8-noticias/471-cigarro-maleficios); ANVISA (http://portal.anvisa.gov.br/danos-do-tabaco-a-saude); Imagens --> Internet (www.google.com.br/imghp?hl=en).